Recuperação econômica mais lenta preocupa setor produtivo de SC

03/08/2018

Os empresários catarinenses previam que o ritmo de crescimento da economia estadual neste ano seria menor do que em 2017, quando quase todos os principais indicadores fecharam no azul e o Índice de Atividade Econômica (IBCR) do Banco Central (BC) apontou uma alta de 4,2% para o Produto Interno Bruto (PIB) de Santa Catarina. A Copa do Mundo e as eleições influenciaram a perda do setor produtivo, com menos dias de trabalho e incerteza com a política nacional. Porém, um obstáculo inesperado e mais pesado, a paralisação dos caminhoneiros em maio, puxou para baixo os resultados do primeiro semestre e a confiança da maioria dos agentes econômicos. Por isso, lideranças catarinenses projetam que o segundo semestre deste ano será mais difícil do que o primeiro, mesmo que um candidato reformista seja eleito no segundo turno, em 28 de outubro.

É claro que o PIB do Estado não vai fechar no vermelho em 2018. Mesmo com o prejuízo dos protestos nas rodovias, a prévia do BC acumulou de janeiro a maio alta de 2,19% no Estado, três vezes mais do que a nacional no período (0,73%). No entanto, a expansão do segundo semestre pode ficar abaixo do resultado da primeira metade do ano em SC se fatos mais animadores não ocorrerem.

O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de SC (Icei) ficou em 48,7 pontos em julho, 1,2 pontos a mais do que o mês anterior, mas abaixo de 50 significa falta de confiança e freio em investimentos. Outro indicador que reflete o ritmo da economia é a arrecadação de impostos estaduais, que teve alta de 5,7% no primeiro semestre frente ao mesmo período de 2017. Essa expansão ficou aquém do projetado, principalmente porque a paralisação dos caminhoneiros causou perda acumulada de R$ 304 milhões em maio e junho, calculou a Secretaria de Estado da Fazenda. Os maiores recuos ocorreram no agronegócio (- 36,14%) e nos combustíveis (-17,32%). No semestre, a receita do governo ficou 2,21% abaixo do orçado.

As exportações catarinenses foram afetadas não só pela paralisação dos caminhoneiros, mas pela série de embargos às carnes brasileiras em mercados importantes. Por isso, fecharam o primeiro semestre com queda de 4,16% frente ao mesmo período de 2017. Mais um indicador que reflete o momento da economia é o emprego. SC perdeu 4 mil postos de trabalho em junho (veja mais ao lado).

Na avaliação do presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Glauco José Côrte, de uma maneira geral, o Estado fechou o primeiro semestre com desempenho econômico acima da média brasileira.

– As vendas da indústria catarinense cresceram 10% de janeiro a maio frente a 3% da média nacional. Isso é bom. Nossa indústria conseguiu desovar estoques.

No emprego, crescemos 1,7% no primeiro semestre, enquanto o Brasil cresceu 1% – afirma.

Crescimento ficará em 1,8% no ano, projeta fiesc

Quando observa o segundo semestre, Côrte acredita que haverá mais dificuldades.

– As perspectivas não são boas. Junho provocou um certo impacto. O índice de confiança está muito baixo. Acho que isso tende a perdurar com reflexos em julho. É possível que, a partir de agosto, quando as alianças políticas se definirem, a confiança de investidores e empreendedores nos rumos da economia pode melhorar. Mas, quanto ao crescimento, entramos o ano com expectativa de 3% e devemos encerrar com 1,5% ou 1,8%. Temos que olhar agora para 2019 – disse o industrial.

Para o presidente da Fiesc, é necessário mexer na máquina pública, desburocratizar e reduzir a carga tributária para facilitar investimentos.

Eleições são a luz no fim do túnel, diz empresário

O comércio catarinense estava liderando o crescimento nacional desde o ano passado, mas teve um forte impacto negativo com as barreiras nas rodovias em maio, resultando na retração de 4% no mês, a maior do país.

Segundo o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-SC), Bruno Breithaupt, devido à paralisação dos caminhoneiros o movimento econômico do setor caiu 0,5% no primeiro semestre em SC. Esse dado é de uma pesquisa interna da federação, diz, ao alertar que a economia ainda sente os impactos negativos da recessão de 2015 e 2016.

– No segundo semestre, em função da eleição, da instabilidade política, não esperamos muito – avaliou o empresário.

Para melhorar o ambiente visando facilitar a geração de postos de trabalho, Breithaupt diz que o país precisa derrubar a burocracia e o engessamento de licenças para empreender. Também recomenda fazer todas as reformas e privatizar a maioria das estatais.

Outro líder empresarial que tem constatado insatisfação com o ritmo da economia é o presidente da Federação das Associações de Pequenas Empresas (Fampesc), Alcides Andrade.

– A economia estava melhorando lentamente até a paralisação dos caminhoneiros. Aí foi um desastre. As empresas vinham se recuperando da recessão, mas tomaram um novo tombo e, agora, estão com muitas dificuldades. Não ouço reclamações somente de pequenas empresas, mas também das médias e grandes – afirma Andrade.

Conforme o empresário, entre os setores que menos sentiram com as barreiras nas rodovias está o de tecnologia. Mas, quem depende de logística, ficou no prejuízo. O presidente da Fampesc cita, por exemplo, um restaurante de Rio do Sul que demitiu em razão da mobilização.

– A luz do fim do túnel é a eleição daqui a três meses. Depois vamos ver qual é o rumo que o presidente eleito vai definir – conclui o presidente da Fampesc.

Economistas apontam cenário mais otimista até o fim do ano

O economista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina João Rogério Sanson observa que no início do ano as expectativas eram de recuperação, tanto da economia de Santa Catarina quanto do Brasil.

– Aí vieram as surpresas desagradáveis para as exportações catarinenses, como as barreiras para as carnes no exterior e a greve dos caminhoneiros no Brasil. Quando se consideram as vendas do Estado para o país, elas são muito maiores do que para outros países – afirma.

Para Sanson, o segundo semestre começou mal também por causa da greve, mas parece haver sinais de melhora e as vendas do final do ano podem ajudar a ampliar o resultado do PIB.

– O grande problema continua sendo os investimentos. Enquanto não se definir que tipo de política vai prevalecer, quais são as reformas que serão aprovadas no início do ano, os investimentos estarão em compasso de espera – alerta o economista, que vê potencial de retomada do crescimento no ano que vem, independentemente de quem ganhar a eleição, porque serão feitas algumas mudanças, embora não drásticas.

As expectativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia brasileira não são ruins, com crescimento neste ano e um ritmo de expansão mais acelerado em 2019, acrescenta a economista Graciella Martignago, professora do mestrado de Administração da Unisul. Segundo ela, o mercado está em compasso de espera em relação às eleições.

– O que a gente está precisando, mesmo, são as reformas, para que seja solucionado o problema da dívida pública, e que se repense o papel do Estado brasileiro na economia. O ideal seria eleger alguém que perceba que o setor público precisa ser menor. A economia brasileira não está suportando um Estado que fica com 40% do PIB – afirma Graciella.

Na avaliação da economista, o risco político está caindo porque os candidatos Jair Bolsonaro e Ciro Gomes parecem não assustar mais.

Fonte: Diário Catarinense

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